É madrugada.
A garganta faz horas que reclama, está seca.
Levanto. Não tem água.
Os olhos, que nem dormiram, percorrem a casa
de luzes
acesas.
Esse turno, diria eu o mais silencioso de todos,
me agrada.
Acalma a alma.
Permita-me, hoje, ser companhia para mim
mesma e que meus
pensamentos aflorem
do mais íntimo de mim!
A noite passa e o relógio, com seu “tic-tac”,
marca o que é menos importante agora: o tempo.
A noite é som de vozes em mim
(sem esquecer a música que toca lá fora.).
As cores espatifadas em minhas paredes revelam
o que a alma
cinza perdeu e o seu anseio de respirar,
ou seria resgatar?
Discordam os transeuntes. Dizem que as madrugadas são feitas
para dormir ou
pertencem apenas aos boêmios.
Para mim, ela pertence às almas
como a minha.
Inteiras em seus cacos. Inquietas.
Ou à cabeças que pensam demais.
A madrugada é um corte na alma pra alguns,
o descanso do
corpo e dos olhos cansados para outros.
Para os adolescentes, a hora
de chegar ou fugir de casa.
Para mim, ela traz a lembrança de tudo que fui.
Onde toda a minha cor escorre em lágrimas e emana em risos e
expressões que, à luz do dia, se armam de cordas e cadeados.
A madrugada me mostra o que tem de melhor e pior em mim: eu.
PALOMA MARQUES
22/06/14