Desculpe-me a saudade, o engano,
o choro.
É que eu me vi livre não
querendo ser,
querendo não ter essa liberdade
que um dia eu quis
e achei que fosse vida.
Eu me vi criança sem vergonha de
ser,
me vi crescida lutando pra
entender o que me prende
nesse mundo amargo de adultos.
Vi-me jovem destinada a nada e
querendo tudo,
amando tudo, ansiando nada.
Andando nos vales escuros da
alma vazia,
pisando em sombras de gente que
jazia num terreno anteposto a mim,
mas que tinha meu sangue
correndo nas veias.
Vi meus entes ficarem,
desfalecidos no cansaço do
mundo,
do corpo,
falecidos de chão mesmo
parecendo muito vivos.
Lembrei-me de tudo num sonho
passado da noite que acabara de começar.
No arquivo perdido nas cartas
que escreveram nos desesperos de outros tempos.
Registraram meus espelhos,
recordaram quem eram em mim.
Desejaram não ser.
Desfizeram o ser e então eu
descobri que tudo que tinha ali era eu.
Parte falecida e viva.
Decomposta.
Solitária.
Afogada nas sombras.
Eu descobri que tudo era eu.